Prince of Persia

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Se o delfonauta tem um PS2 ou é um gamer old-school, muito provavelmente tem um carinho especial para com a franquia Prince of Persia. O primeiro jogo, aquele jurássico de PC, foi a primeira vez que eu vi gráficos poligonais em ação e, embora tenha gostado muito, mal imaginava que isso se tornaria o padrão dali a alguns anos.

Este novo Prince of Persia compartilha apenas o gênero e o título com seus antecessores. Ele na verdade é bastante diferente. A história é completamente diferente, contando apenas com personagens novos (e pequenas referências aos outros games) e o combate se tornou praticamente inexistente.

Por causa dessas diferenças, tentemos, para essa resenha, alguma coisa diferente também. Ao invés de falar de cada aspecto do jogo, detalhando as qualidades e defeitos, vamos dividir esta resenha em pontos positivos e negativos. Comecemos pela parte boa.

PONTOS POSITIVOS

Prince of Persia é lindo. Não apenas os seus gráficos são tecnicamente excelentes, como são artisticamente fenomenais. Manja aquele sentimento “Pela virgem de Santiago de Compostela!” que temos ao jogar Shadow of the Colossus ou Okami? Pois ele também acontece aqui, com a vantagem de que, ao contrário do Shadow, os gráficos impressionam também pela parte técnica, não apenas pela artística. Só é uma pena que, apesar de constar na caixa, o jogo não tenha full HD real. A única forma de jogá-lo em 1080p é forçando essa resolução pelo menu do PS3, basicamente um upscaling.

Ainda sobre os gráficos, e já entrando na sensação de jogá-lo, o caro delfonauta já deve ter percebido como os games andam sérios. Mesmo jogos fanfarrões na linha “mamãe, olha o tamanho do meu piupiu”, tipo Gears of War, constantemente apelam para a ausência de cores ou músicas malvadas para fingir que são sérios.

Este Prince não faz isso. Não tem um único momento de sua duração que não seja revigorante ou positivo. Mesmo as cenas de perigo são complementadas por um quê de fantasia e em nenhum momento o jogador se sente impelido a se encolher no canto em posição fetal. Tudo isso é complementado por uma trilha sonora fenomenal, com belíssimas melodias e cujo único defeito é que não toca o tempo todo.

Aliás, perigo é algo quase inexistente por aqui. Toda vez que você “morrer”, será salvo pela sua sidekick, a Elika. Se você caiu num abismo, ela te colocará de volta na última plataforma segura. Se foi durante um combate, o vilão vai recuperar alguma da sua energia.

Essa filosofia coloca Prince of Persia entre os jogos mais fáceis da história. A maioria das pessoas considera isso um ponto negativo, mas eu particularmente acho muito legal quando algo vai contra a corrente. E este game faz isso tanto no clima quanto na dificuldade.

A jogabilidade é excelente, mas entendo porque algumas pessoas podem não gostar. A maior parte do jogo é composta de escalações. E a escalação é praticamente automática. Pule na direção de uma parede e o príncipe vai correr nela. Se tiver um anel, aperte bola para ganhar impulso, se vir uma coluna, aperte X para pular e segurar nela. Uma vez que o jogador estiver treinado, isso se torna praticamente automático. Cada um desses detalhes de cenário começa a funcionar quase como se o jogo mostrasse o botão que você deve apertar para continuar vivo. E você tem alguns instantes para fazer isso, ou vai ter que chamar a Elika para te salvar, como o mariquinha que é.

Se você é escolado, já deve ter sacado: jogar PoP é quase como jogar Dragon’s Lair ou aqueles outros filmes interativos que rolaram de monte no Sega-CD. E eu adoro esses jogos. Se você discorda de mim, e sempre achou que falta “jogo” nesses títulos, provavelmente vai odiar este. Porque é fato, quase tudo que o príncipe faz é automático, você só aperta botõezinhos nos momentos certos.

Por falar em apertar botõezinhos, durante o jogo você libera botões especiais, que servem como poderes. O verde, em especial, é bem legal, pois permite ao príncipe correr pelas paredes. Quando utilizado em conjunto com os outros, em especial com o amarelo, que permite voar, a sensação é de extrema pintudice. Sem falar que você logo vai perder a noção do que está em cima e embaixo.

O combate também é praticamente automático. O quadrado usa a espada, o triângulo usa a Elika (magia), a bola usa a luva (agarrar) e o X joga o sacripanta para cima. Escolha o que quer fazer e aperte em qualquer momento do seu combo. É button-mashing total, mas é legal. Infelizmente, poderia ser mais legal se não insistissem tanto em minigames do tipo “metralhe o quadrado o mais rápido possível”. E falando nisso, vamos para a parte ruim.

PONTOS NEGATIVOS

Prince of Persia vai contra a corrente em alguns pontos, mas também a segue em outros. Infelizmente, decidiu seguir a corrente no mundo aberto. E, como quase todo jogo que se diz mundo aberto, na verdade não é tão aberto assim. Saca a rotina que logo se forma:

Escolha uma fase. Vá até lá. Evite as armadilhas até chegar no chefe. Mate o chefe. O mundo vai ficar bonito e colorido. Explore a fase inteira para tentar achar todas as 45 bolinhas luminosas que aparecem. Escolha outra fase e repita 24 vezes.

Essas bolinhas são necessárias para ganhar os poderes (os botões especiais lá de cima, lembra?), sem os quais você não vai conseguir passar da maioria das fases – e nem pegar boa parte das bolinhas. Mas ficar procurando por elas é um saco. Imagina se, no Assassin’s Creed, você fosse obrigado a pegar todas as bandeirinhas antes de ir para sua próxima missão. É mais ou menos por aí. Ok, depois que estiver com todos os poderes, não precisa mais procurar por elas, mas se você não fizer isso, o jogo vai embora muito rápido, já que a maioria dessas fases dura menos de cinco minutos – o grosso da jogabilidade é mesmo procurar as bolinhas. E eu odeio ficar procurando coisinhas.

Também não gosto do fato de o jogo ser quase completamente azul até você matar o chefe. Poxa, os anteriores eram bonitos o tempo todo, por que esse também não pode ser? E a própria Ubisoft sabe como jogar em um cenário azul é chato. Afinal, todos os vídeos do jogo que liberou antes do lançamento mostravam só o mundo depois de colorido.

Ah, e é realmente necessário obrigar o jogador a matar cada chefe seis vezes? Que preguiça em fazer designs, hein, Ubisoft? Aliás, se você gosta de matar coisas, este definitivamente não é um jogo para você. Isso porque, tirando os chefes, praticamente não existem inimigos genéricos. Tem um guardando a entrada de cada fase e é basicamente isso (pelo que me lembro, só uma fase tem um inimigo não-chefe no meio dela). E todos esses 16 inimigos genéricos que existem no jogo são praticamente iguais. Poxa, considerando que são apenas 16 (ok, talvez sejam 18, ou 14), eles poderiam ser completamente diferentes uns dos outros, não concorda?

E lá vou eu discordar de todo mundo que fica pagando pau para a Elika: eu já estava com o pé atrás quando escrevi essa notícia e mantenho minha opinião. A Elika não traz nada de novo para o mundo dos games. Por exemplo, você já está cansado de fazer pulo duplo, certo? Pois aqui você os fará com a ajuda da Elika, ao invés de mandar Isaac Newton ouvir pagode e usar o próprio ar para o segundo pulo. Grande diferença, não?

Além disso, toda essa história de que ela não atrapalha o jogador é falsa. Lembra quando, no Bottom 5 de clichês irritantes de games, reclamei de companheiros que bloqueiam o caminho? Pois Elika é expert nisso. O mundo de PoP é repleto de caminhos estreitos e a moça sempre está atrás de você, praticamente te encoxando. Se você quiser voltar, vai ter que esperar o príncipe e ela darem uma dançadinha para trocarem de lugar. E esse “atraso involuntário” me deixa deveras estressado. E não para por aí. Sempre que você for se segurar em plantinhas na parede, tem que esperar uns três segundos até o príncipe agarrar e colocar ela nas costas, como se fosse uma mochila. Quando você está correndo contra o tempo (o que acontece com bastante freqüência aqui), esses segundos podem ser vitais.

Além disso, a Elika é imortal, voa, solta mágica e é absurdamente pintuda. Cacilda, para que diabos ela precisa do príncipe? Ela pode simplesmente voar (mesmo levando o príncipe nas costas) até onde o chefe está e fazer miséria com ele. Acredite, durante o jogo, você vai desejar que ela fosse a protagonista.

Já que falamos em segundos, vários dos puzzles envolvem girar alavancas. E isso é absurdamente difícil de fazer. Às vezes os personagens simplesmente se recusam a empurrar, outras vezes vão para o lado errado, mesmo você estando empurrando para o lado certo. Tem uns troféus do tipo “atravesse tal fase em três minutos” e nessa hora eu quase quebrei meu controle, porque eu virava a alavanca para o elevador subir e ele descia, ou vice-versa. Deve ter uma lógica nisso, mas admito que não consegui sacar qual é e nem o manual nem o tutorial explicam como funciona. Mas definitivamente não é daquela forma normal, com a qual estamos acostumados em games como God of War e tantos outros.

Também merece menção a “mercenariedade” da Ubisoft. O jogo traz uma skin para você jogar com o Altair, do Assassin’s Creed, mas a única forma de liberar isso é dando seus dados para a Ubisoft. Uma coisa chata e absolutamente desnecessária, que mais gera antipatia pela empresa do que qualquer outra coisa.

Por fim, não posso deixar de citar o final, absurdamente frustrante, pois praticamente anula tudo que aconteceu no jogo. Imagino até que o troféu que aparece ao concluir o jogo, chamado “To be continued…” deveria ser uma piada, mas eu não ri.

CONCLUSÃO

O que Prince of Persia faz bem, ele faz muito bem. Infelizmente, essas coisas acabam se perdendo em meio a uma quantidade extrema de repetições, backtracking e “procura por bolinhas luminosas”. A base de um jogo excelente está aqui. Eles só precisam resgatar algumas das características que estavam presentes nos anteriores, colocar mais combate e abrir mão desse mundo aberto pero no mucho. Vale a pena jogar? Vale sim. Mas é melhor pegar emprestado do que comprar, a não ser que você realmente seja muito fã da franquia.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
prince-of-persiaAno: 2008<br> Gênero: Plataforma<br> Plataforma: Xbox 360, PS3 e PC<br> Fabricante: Ubisoft Montreal<br> Versao: PS3<br> Distribuidor: Ubisoft<br>